22 de out. de 2015

Privatização de presídios transforma detentos em fonte de lucro, afirmam entidades

Organizações se posicionam contra projeto de lei que estabelece normas para a privatização de presídios; Segundo elas, as prisões privadas são mais caras e menos eficientes que as estaduais.
Por José Coutinho Júnior,
Do Brasil de Fato – Clique aqui

Apesar do grande número de pessoas presas no Brasil e das inúmeras violações de direitos humanos que caracterizam o sistema prisional, a privatização dos presídios não é a solução para sanar o problema, uma vez que o detento passa a ser um produto. "Não é preciso muito esforço para perceber que a partir do momento em que a prisão passa a ser fonte de lucro, o investimento neste setor requer um número cada vez maior de prisões e o aumento do tempo do cumprimento de penas", afirmam diversas entidades, em nota veiculada neste mês.
O documento foi divulgado em repúdio ao Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 513/2011, de autoria do senador Renan Calheiros (PMDB), que estabelece normas gerais para privatização do sistema prisional brasileiro por meio da contratação de parceria público-privada para construção e administração de estabelecimentos penais.
"Sem maiores disfarces, o artigo 9° do PLS determina que 'o concessionário será remunerado com base na disponibilidade de vagas do estabelecimento penal'", repudia a nota assinada pelo Núcleo Especializado de Situação Carcerária da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, a Pastoral Carcerária, o Instituto Terra Trabalho e Cidadania e o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais.
A prisão de Ribeirão das Neves, em Minas Gerais, com 3336 vagas, foi a primeira inaugurada por meio de uma Parceiria Público Privada (PPP), em 2013, durante gestão de Aécio Neves. Uma das cláusulas dispõe sobre a “obrigação do poder público” de garantir “demanda mínima de 90% da capacidade do complexo penal, durante o contrato”.
“Esse é o grande exemplo de que os interesses por trás dos presídios privados são financeiros e econômicos. Isso para não dizer escusos! O Estado vai ter que prender mais pessoas, para manter a unidade 'funcionando'”, afirma Deyvid Tadeu Livrini, coordenador estadual da Pastoral Carcerária de São Paulo.
O coordenador também afirma que o argumento de que as prisões privadas são mais “baratas e eficientes” é falso. “A maioria das pessoas que usa esse argumento diz que o nível de reincidência é menor do que quem fica nas prisões do Estado. Mas nos contratos das empresas com o Estado está que a prisão privatizada vai acolher o preso que tem o potencial menos perigoso. E se um preso comete faltas graves, ele volta para uma prisão do Estado”, denuncia.
Custo
O relatório “Prisões privatizadas no Brasil em debate” feito pela Pastoral, em 2014, aponta que o custo de cada preso nas prisões privatizadas para o Estado é de R$ 3 mil; nas prisões estaduais, o custo é de R$ 1,3 mil.
Além disso, o tratamento e as condições nas prisões privadas são piores do que nas estaduais. “O preso na prisão privatizada tem menos contato com a família, porque as regras são muito mais duras. O dano psicológico, afetivo e humano é muito maior”, afirma Deyvid.
As entidades também apontam na nota que a privatização dos presídios significa transferir o poder punitivo do Estado para organizações particulares. Soma-se a isso o fato que os presídios privados contratam advogados para oferecer assistência jurídica aos presos, o que torna denunciar as violações que ocorrem nestes presídios difícil.
Uma carta dos detentos do presídio de Neves, divulgada em reportagem de 2014 da Agência Pública, relata as condições na penitenciária. “Quando pedimos atendimento medico eles nos conduzem ao isolado alegando que faltamos com falta de respeito com eles (…) eles tratam nós detentos como animais na jaula, os nossos tratadores vem e deixa a ração na hora que eles querem e vão embora e só volta quando tem que pagar a próxima alimentação”. Os detentos relatam também que muitas pessoas com penas vencidas continuavam presas.
“O preso, pela Constituição, está sob a tutela do Estado, que deve atender suas necessidades de saúde, instalações e jurídicas. O Estado não pode passar suas obrigações para a iniciativa privada, pois isso viola a Constituição”, conclui Deyvid.
Trâmitação
No final de setembro, o Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 513/2011 foi inclído na pauta da Comissão Especial do Desenvolvimento Nacional, mas retirada durante o dia, a pedido do relator senador Antonio Anastasia (PSDB-MG).

14 de out. de 2015

Babaquice brasileira

Já faz alguns anos que penso que a babaquice do ser (ir)racional brasileiro não pode ser classificado cientificamente, quando o assunto em questão é política. E alie a isso o fato de política estar em tudo o que fazemos, vemos, ouvimos, respiramos. Afinal, a depender de uma disputa política, ou de uma vontade política, até o que você bebe não é o que você realmente bebe (veja o caso das cervejas, que hoje são produzidas no Brasil à base de milho).

Da mesma forma que não sabemos o que bebemos, também não podemos saber o que pensamos. Será que nossos conceitos são realmente nossos? E quando se trata de corrupção? De PT? De seletividade da mídia? De Juiz Moro?

Ontem, estava bem sentado num ônibus, me deslocando ao centro da cidade, quando um senhor, com vestes da antiga SUCAM (antiga por que não sei se ainda existe ou se era realmente da SUCAM o uniforme que ele usava) adentra o coletivo e senta-se ao meu lado. Com fala mansa e demonstrando insatisfação com o calor, ele tenta puxar assunto. Liberei-lhe um falso sorriso e ele entendeu. Minutos depois, ele retoma sua iniciativa de conversar. Era um senhor simples, de vocabulário pobre, mas rico em vontade de expressar sua opinião. E perguntou-me: “Você assistiu o jornal da GLOBO ontem? Viu o que aconteceu com aquela vagabunda? Sabe dizer se o STF vai deixar derrubar aquela nojenta? ”. Respondi-lhe, com uma única palavra que não. E ele continuou: “Mas nem o FANTASTICO você assistiu? ”, e já me julgava um completo desinteressado pelos rumos da nação pelo simples fato de eu não ter assistido o Jornal e o programa da GLOBO das noites anteriores. E desceu junto comigo, na Lagoa, relatando sua vontade e me questionando sobre o que pensava sobre a derrubada do governo: “Não vejo a hora dessa cachorra sair do governo. Você acha que ela cai? ”

Ultimamente tenho me reservado no direito de não responder a indagações sobre o Governo Federal. Até porque, nos rumos atuais, ninguém tem estômago para fazer defesa dele. A Política Econômica desses últimos meses tem afastado militantes, simpatizantes e até gente que faz parte, organicamente, do governo. Mas confesso que não resisti. Era muita pressão para eu me calar. E lhe me despedi do senhorzinho com duas perguntas que lhe fizeram procurar outra pessoa pra conversar: “Meu senhor. Não sei se o senhor tem idade suficiente, mas, se tem, deve ser do tempo em que um salário mínimo não passava dos R$ 120,00 e, após 8 anos de governo, chegou aos R$ 200 com muita dificuldade e luta. 1. O senhor lembra disso? 2. O senhor sabe quanto custava uma cesta básica naquele período? (R$ 82,50)

Ainda durante aquele governo, e em anos anteriores, multidões se humilhavam em filas nas portas da casa de cabos eleitorais de bairros, afim de receberem tickets que valiam 2l de leite. O subsídio do GLP foi tirado, fazendo o gás de cozinha mais que triplicar. O mesmo aconteceu com o combustível. As tarifas de telefonia subiram exorbitantemente ao ponto em que as Ações das operadoras despencaram.

Provavelmente ele não deve ter lembrança disso. Afinal, assiste à GLOBO todas as noites (exceto àquela sobre a qual me questionou). E talvez seu repertório de conhecimento nato só não seja maior por não ter interesse na leitura, fruto de uma política de Estado de décadas, e assim, não tenha visto VEJA.

Mas, o pior é o tratamento dispensado à uma Chefe de Estado. As palavras utilizadas por esse senhor não são nada perto das charges, caricaturas, vídeos e áudios que me chegam todos os dias via redes sociais. É tão hilária a posição política do brasileiro que, volta e meia ele quebra a cara. Ou ninguém percebeu que escolheram os piores e mais corruptos políticos da história recente para liderar o movimento anticorrupção? E o caso da estocagem de vento, que rende diuturnamente piadas vazias, tão vazias quanto às mentes de quem as produzem, e sobre um tema que sequer têm conhecimento? Não perceberam que estocar vento é tão possível que eles próprios já praticam isso dentro de suas cabeças?


De fato. A babaquice do brasileiro não é coisa para se perder tempo e dinheiro em pesquisas científicas. No máximo, é assunto para um texto rápido, como esse.

Para conhecimento

COMPARAÇÃO: CESTA BÁSICA/SALÁRIO MÍNIMO
abr/02 ago/15
SAL. MÍNIMO (R$)C. BÁSICA (R$)% SAL. MÍNIMO (R$)C. BÁSICA (R$)%
200 82,5 41,25 724,96 244,45 33,72
Fonte: http://www.ufsj.edu.br/dceco/cesta_basica.php