Enquanto esquentam as apostas sobre a derrubada do governo Dilma, as linhas do
tempo do facebook aumentam a expectativa sobre o destino do país.
Mas nada chama mais a atenção do que os comentários dos
médio-classistas sobre a problemática da política brasileira. E digo, se vestem
até com bandeiras que, historicamente, tentaram queimar, como a do
anti-preconceito contra negros, pobres e afins.
Ontem, uma amiga respondeu a uma publicação que
compartilhei. A cena colocava uma jovem senhora, bem arrumada, batendo panela
na sacada do seu apartamento. Ao lado dela, uma senhora mais velha, com trajes
entre os de ir dormir ou o de ficar na sala assistindo novela (tipo aqueles que
você usa em casa quando ninguém vai te visitar). Entre as personagens, um balão
sugeria que a senhora seria a empregada doméstica do apartamento e a garota, a
patroa, e ironizava que, enquanto a madame batia panela, ela, a empregada
doméstica, ficava ali, de boa.
A resposta dessa minha amiga foi quase que um atentado
contra quem é filho de ex-doméstica e atual doméstica (do seu próprio lar,
agora). Ela me questionou porque a mulher, gorda e ‘mal’-vestida tinha que ser
a empregada, e não a mocinha bonitinha do lado. E ainda sugeriu que eu, ou quem
elaborou a postagem, era preconceituoso e burro.
Confesso que fiquei sufocado com colocação, mas, depois de
passado o período sem ar, recuperei meus bons pensamentos e relaxei.
O fato é que ela se colocou enquanto classe média,
defendendo a classe média, e insinuou que o atual governo, corrupto e
mentiroso, estimula a sociedade contra eles, colocando a classe média (aff,
quanta classe média nesse texto) como vilã de tudo de ruim que acontece no
Brasil.
De fato, para muitos, é a classe média a grande vilã. É ela
que, não sendo elite e não suportando ser comparada aos pobres, se comporta
como se elite fosse e pisa nos seus subalternos. E isso não é coisa recente. Quem
não perdeu as aulas de história ou leu a bíblia sabe da existência da luta de
classes. Mas eu acredito que não é a classe média a vilã da estória. Ela não
passa de um grande fantoche.
A briga lá em cima é feia. Mas é na classe média que a elite encontra o escape para suas empreitadas. Ela não é burra de se expor tanto. Existem negócios internacionais
envolvidos. Muito dinheiro envolvido. Corrida por hegemonia científica,
nuclear, bélica. Muita guerra de poder. E, convenhamos, não fosse a pressão do
grande capital para que seus representantes aqui no país consigam, finalmente,
terminar o processo de entrega de nossas riquezas, e a implementação das
políticas impostas pelo FMI, que afloraram nesse momento na Grécia, por
exemplo, onde o Estado não deve intervir em áreas públicas como educação e
saúde, e que o dinheiro advindo de impostos, têm que ficar guardados para
salvaguardar bancos em períodos de crise econômica, como na Grécia (por
exemplo, de novo), o simples fato de não terem logrado êxito nas ultimas 4
eleições para a presidência da República, já era de se deixar qualquer tucano
chateado.
Alie a isso que, sendo fantoche, e não sendo elite, muitos
dos senhores da justiça, como o juiz Moro, muitos delegados de Polícia, Federal,
principalmente, muitos funcionários de empresas privadas de comunicação,
precisam mostrar trabalho, para manterem seus padrões de vida ali na quase faixa que os divide da tão sonhada elite, e que os mantêm afastados dos tão horrorosos
pobres, que empestam as ruas com seus cheiros incômodos, suas cores incomodas,
seus trajes incômodos.
Não fosse, também, só isso, nos últimos 14 anos, foi notória
a invasão desses pobres e negros (e agora até essa onda de homossexuais) em
espaços que, até então, só eram frequentados pelos médio-classistas
branquinhos, limpinhos, cheirosinhos (e héteros).
A classe média, porém, não é só fantoche. Além de, ela
também é vingativa.
Quem puxar pela memória, ou procurar por noticiários da era
FHC, vai ver que, mesmo com tendências elitistas, a classe média derrubou o
PSDB, seu partido mais-que-amigo, porque as coisas não iam bem. Nos 8 anos de
governo de Fernando Henrique, a classe média perdeu tanto dinheiro, que decidiu
apoiar uma guinada nos rumos políticos. Aguardou que o PT de Palocci e Dirceu expusesse
suas políticas econômicas e pulou para dentro do cordão de isolamento desse
novo bloco de micareta. Se vingou do PSDB. Ponto! E agora, em meio a um caos
político, provocado pelo PSDB, resolveu apoiá-lo, porque se sente pressionada
com tantas conquistas cedidas aos pobres que ela tanto odeia, mas finge amar
como um filho bastardo, e, para voltar a ter algumas regalias, vai até o fim na
nova investida dos Tucanos, pra derrubar o governo, por via de Golpe.
E é burra. Não consegue perceber um palmo à frente do seu
nariz.
Tem como força motriz a bandeira da corrupção, e não percebe
que a corrupção está enraizada em todas as esferas dos governos, nos três níveis.
E que só vai trocar 6 por meia-dúzia. Ela, a classe média, sequer se pergunta:
quem vai assumir o governo depois disso?
É burra novamente. Mesmo com a cessão de tantos benefícios
para as classes historicamente esquecidas, o governo movimenta dinheiro dentro
do país. Não fosse o bolsa-família e os programas de acesso e facilidades do
governo, por exemplo, seu Mariano, da farmácia ao lado, não venderia tantos
medicamentos. Não compraria dos laboratórios que, por sua vez, não teriam razão
de existir. Sem ter nada a ver com isso, as ‘elites’ políticas, idóneas e
preocupadas com o futuro da nação, respondem, única e exclusivamente aos investidores estrangeiros. Alguém
ai, de cabelo liso e pele clarinha sabe o que isso significa?
E continua sendo burra. Visando atender ao povo, e dinamizar
a ‘coisa pública’, o governo investiu no setor público. Nunca se criou tantas
vagas em concursos como nos últimos anos. E com um governo entreguista? E com a
privatização das instituições de ensino federais? E com a aprovação da lei de
terceirização? E com a venda da Petrobrás e o fim dos ‘royalties’ do pré-sal?
Por fim, para entender como se comporta a classe média no
brasil, aconselho até que faça uma análise do personagem do ator paraibano
Luiz Carlos, na novela da Globo ‘Além do Tempo’. Ele é o retrato dos médio-classistas
temporizado no período que marcou o fim(?) da escravidão no país.
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