Ouvi dizer, certa vez, que o povo brasileiro tem consciência política.
Era difícil crer porque as pessoas que me falavam aquilo eram pessoas
conscientes politicamente de que aquele discurso não era verídico. Hesitei! Fui
rechaçado. Continuei minha saga de homem do contra até nas rodas de pessoas ‘do
contra’. Tão logo me vi sem mais argumentos para convencer quem quer que fosse,
me calei. E aguardei.
Daí, vieram as manifestações da época em que o gigante havia acordado.
E li (e ouvi) que o povo brasileiro tinha consciência política. Afinal, estavam
reivindicando seus direitos. Dessa vez, quem esbravejava que o povo tinha
tamanha conscientização de ser socialmente político era a famigerada classe
política. Só que eram os do outro lado. Os acostumados a repassar suas cadeiras
nas câmaras e casas governamentais a seus filhos. Os donatários de imensa lista
de denuncias de corrupção sequer julgadas em outros tempos. Era a tal classe
política a quem exatamente não interessava o povo brasileiro ter consciência política.
E o que havia de errado nisso? E porque eu insisto comigo mesmo que eu estava
certo no episódio anterior?
Quando militantes de esquerda (ou socialistas) dizem para não
subestimarmos o povo porque ele (o povo) sabe da importância do seu papel na
formação da sociedade, ao que eu chamo de consciência política, na verdade,
estes guerreiros, sedentos por uma sociedade mais justa e igualitária, querem
se convencer de que a suas lutas por conscientizar o povo não estavam sendo em
vão.
Contudo, quando o gigante acordou, cutucado pela imprensa
burguesa, rasgou bandeiras, xingou e agrediu manifestantes, quebrou patrimônio público,
e gritou palavras de ordem contra o governo, contra o partido dos trabalhadores
e contra qualquer um que parecesse favorável a este governo, tomar o controle das
manifestações sem ferir o sentimento de liberdade do gigante sonolento foi uma
sacada midiática genial, colocada em prática de supetão, e que parecia que
vinha dando certo.
Dizer que o povo brasileiro tem consciência política e
colocar esse povo a par de que sua consciência é valida, massageia o ego das
multidões que foram as ruas lutar pelo que nem sabiam porque estavam lutando. E
inflamava o povo a continuar estufando o peito, dizendo-se capaz de raciocinar,
mesmo que desligasse a TV ou rasgasse a revista. Mesmo que se desconectasse do twitter e do facebook.
É a mesma coisa que fazem agora os poucos brasileiros que
ainda conversam nos espaços de sociabilidade e de contato físico. É a mesma
coisa que fazem agora as dezenas de milhões nesta nação que não conseguem dar um logout na Globo/Veja e nos perfis do Anonymous e dos Revoltados
Online, frente à decisão de uma corte suprema que votou pela validade de
uma peça jurídica, esquecendo que o que decide o STF, cabe como exemplo de jurisprudência
para outras deliberações futuras, válidas também para as pessoas comuns. Esses brasileiros
conscientes clamam por justiça, mesmo que se aja com injustiça contra aqueles a
quem se tem aversão.
Como bem postou Flavio Menezes em seu perfil do facebook, citando partes do texto O DIA EM QUE CHICO BUARQUE VIROU GENI, em outras palavras (alteradas por mim, agora),
falta uma força de vontade desse povo brasileiro consciente politicamente para
parar e refletir, ainda que por apenas alguns minutos. A mesma força de vontade
que eles dispensam para republicar, curtir e compartilhar as idéias de uma
gente que eles nem têm idéia de quem são!
2 comentários:
É uma luta injusta, George. Lutar contra os donos do poder, contra os que detém os veículos de mídia no país. Ainda mais quando grande parte da população não tem a preocupação de se informar. Considera que se informar é assistir ao Jornal Nacional ou ler o G1 e não enxergam que na verdade estão por aí a repetir o que esses meios divulgam.
Poucos são os que tem a coragem de dar a cara à tapa e contrariar o senso comum, que é formado justamente por esses veículos. Porque ao fazermos isso temos que ouvir muita coisa, como mostra a matéria falando do Chico Buarque.
Parabéns por se manter nessa luta, George. O país agradece. =]
Abraço
Na luta sempre. Até mesmo contrariando amigos, e encarando inimigos.
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