Faz alguns dias e nas redes
sociais e portais de notícias do Brasil inteiro nos deparamos com uma situação,
no mínimo, inusitada. O ex-candidato à presidência da república pelo PSOL e
fundador do Partido dos Trabalhadores, Plínio de Arruda Sampaio, declarou que
preferia votar em José Serra, lendário candidato do PSDB a tudo, inclusive a
sindico de condomínio (de luxo, é claro), ao ter que votar em Fernando Haddad,
do PT, em São Paulo.
Nada demais, na ótica de 80% da
população brasileira (que não discute e não quer se inteirar sobre política),
não fosse o simples fato de que tanto Plínio, quanto o PSOL, defendem uma
política totalmente contrária àquela praticada pelos neoliberalistas e
socais-democratas do DEM e PSDB. Na sua analise (de Plínio), Haddad é
incompetente demais e Serra é altamente capacitado para fazer as melhorias de
que tanto os paulistanos precisam. É claro que a vontade do PSOL (ou a de
Plínio) não é que o PSDB saia vitorioso, mas, sim, que o PT saia derrotado na
maior cidade do país. E não é só ele.
Apesar da introdução, esse texto
não se dedica a falar mal do PSOL, ou de Plínio, mas trazer ao conhecimento dos
leitores que conseguirem chegar até o final dele, que, na visão tanto da
esquerda sectária (no sentido pejorativo da palavra), quanto dos neo-imperialistas
que tentam, a todo custo, introduzir o modo estadunidense de (sobre)viver em
países colonizados, (ufa), o grande mal do Brasil é o PT.
Os não-avanços de mercado
almejados pela união europeia e pelos norte-americanos, como a ALCA, por
exemplo; a independência (aparente) da economia brasileira, conseguida nos últimos
10 anos; o eminente perigo ofertado pela junção Brasil/China/Índia aos mercados
do mundo inteiro; e o melhor (ou pior, para eles): a notada melhoria na
qualidade de vida dos brasileiros; tudo isso somado à incompetência dos
representantes da GLOBO/VEJA, nos comandos do Governo Federal, até 2002, tocam
num aspecto que a classe A (de alta, ou alterada) não consegue controlar: o
EGO.
Para a esquerda, essa melhoria da
vida do povo de uma nação representa uma forte ameaça ao poder de se revoltar
contra o sistema. Ora, se o povo se alimenta três vezes ao dia, anda de carro,
tem casa e acesso à universidade pública de qualidade através de cotas, porque,
então, teria motivos para começar uma revolução, a tão sonhada revolução
socialista?
Alheio a isso tudo, no nosso
pequeno estado da Paraíba, ideólogos e reacionários andam de mãos dadas há
alguns anos. Um outro partido, que ganhou força a partir da entrada de um
ex-petista, e que, no nome, carrega o peso de ser socialista, PSB, vive o
dilema de pedir, na cara-dura, voto aos movimentos sociais, ao ponto em que cola
santinhos de campanha da representante do governo do estado ao lado do DEM,
partido que mudou de nome recentemente, na tentativa de se livrar do carma da corrupção
(PFL). Passado o 1º turno na capital, agora, mesmo que não declarado
publicamente, para derrotar o fantasma PT, o governo do estado soma forças com
o seu arquirrival (e rival da população pessoense), “liberando” (com aspas) sua
militância para votar de acordo com a sua consciência, e colocando secretários
de Estado para declarar voto no candidato do PSDB.
A política de alianças que o PT
procurou fazer, tanto em nível nacional, quanto aqui, em João Pessoa, também
não é a das melhores faz tempo. E até alguns defensores (como eu) diriam que
vale mais a procura pela governabilidade. Mas isso, obviamente, não exclui a
falta de honestidade e seriedade com que partidos inteiros (e não apenas um ou
outro integrante dele) trabalharam pelos seus representados. Porém, foi a
partir da aliança com o PL, em 2002, e com o PMDB (partidos que representam uma
parcela dessa burguesia acostumada a ter tudo a seu dispor, sem ter que
dividir), que o partido do presidente Lula chegou ao governo federal (e não ao
poder, como dizem muitos por ai), e fez a maior mudança social que o país já
sofreu. Essa mudança, obviamente, ainda não
é aquela que nós sonhamos, mas negar que foi significante para a vida de
milhões de brasileiros, é canalhice (não achei outra palavra mais adequada, desculpem).
No fim, vale uma reflexão: o
problema, para a mídia burguesa e instituições e pessoas formadoras de opinião,
e também para aqueles que ainda se deixam levar pelo que ditam o Jornal
Nacional e o Boris Casoy, não está nas alianças. O problema está em dar
condições para que pessoas saiam de situações de risco social para uma vida
melhor. O problema está no modo petista de governar. Para eles, o problema está
no PT.